A capital da “Manga” faz 90 anos. Nascida moderna em 1922 a Vila de São José dos Altos, cresceu e floresceu com as mangueiras, espalhadas pelas suas praças, ruas e principalmente quintais, tornou-se cidade. E para decifrá-la é necessário penetrar em seus enigmas, e desvelar as várias camadas representativas de sua história, como tempos empilhados nas construções: em suas residências, em suas igrejas, seus colégios, seu mercado, construções que comporam e compõe seu cenário urbano, assim como camadas arqueológicas que se formaram com o tempo, essas construções terminam contando parte significativa dessa história.  O desvelar dessa cidade traz em si o olhar de quem observa seus traçados, suas edificações que deram significados aos contornos de sua materialidade. É preciso passear por suas ruas, praças, cemitério, centro e periferia.

Uma cidade torna-se grande quando perde sua identidade, seu patrimônio primevo, seus tipos característicos, quando seus moradores aos poucos deixam de se conhecer. O aniversário da instalação da Vila de Altos conside com uma época em que as constantes transformações ameaçam o desaparecimento das referências que possam garantir a identidade cultural da própria sociedade, o que suscitam dúvidas quanto à forma de atuar sobre a herança cultural da comunidade.

Pesquisando o patrimônio edificado (arquitetônico) altoense, percebe-se que ao longo desses 90 anos, foi sendo modificado e continua sendo a cada dia. A velocidade dessas modificações na atualidade tem despertado olhar sobre o seu acervo preservado e o que já foi destruído.  Fruto de mais de um ano de pesquisa, não só de campo, mas de muitas leituras e diálogos com os teóricos, possibilitou desvelar a cidade e seu patrimônio “pedra e cal”.

A arquitetura pode demonstrar o crescimento da cidade quando seus prédios se alargam, crescem, mudam suas estruturas para recolher em seu interior um maior número de indivíduos ou simplesmente mudam seus adornos.

As primeiras habitações de Altos eram casas típicas da região, geralmente feitas com barro, varas, preenchidas com pedras, eram as casas de taipas, cobertas com palha de babaçu e piso de barro batido. Embora em número cada vez menor, ainda é possível encontrar alguns exemplares dessas moradias no bairro Auto Franco modelo da arquitetura vernacular. O que no passado era comum por toda a cidade hoje se encontra apenas em alguns pontos perdidos da cidade. De acordo com Ferreira (1987) a primeira residência construída em telha foi em 1892, por Francisco Raulino.



É nesse momento – final do século XIX e alvorecer do século XX – que o ainda povoado ganha coletoria, destacamento policial e a primeira Casa comercial de compra e venda de gêneros. Com uma atividade comercial intensa as construções vão atrelar  moradia e comércio, com parte destinada a loja e outra a residência da família é possível encontrar vestígios desse modelo nas edificações do centro comercial (Avenida Francisco Raulino).

Junto à moda e estilo que se revelam na arquitetura das casas residenciais, reflete o momento que a sociedade está passando, as construções moldam e refletem esse passado. Como exemplar das décadas de 40 e 60 do século XX, algumas edificações exibem em suas fachadas os elementos do ecletismo, que se fazia presente na arquitetura de todo o Piauí.

O colégio Domingos Afonso Mafrense, é um típico exemplar preservado da arquitetura oficial, típica do ecletismo desse momento na cidade, projeto do engenheiro Luis Mendes Ribeiro Gonçalves, que terminou se espalhando por várias cidades do estado.



Algumas fachadas “perdidas” pela cidade ainda guardam fragmentos da decoração eclética. Os templos religiosos têm acompanhado as transformações da própria sociedade. A igreja de São José, instalada em 1901 é um exemplo dessas mudanças no patrimônio edificado, às demais igrejas tem seguido o novo modelo adotado pela arquitetura contemporânea sejam católicas ou evangélicas.


As tendências contemporâneas têm ditado à maneira de construir é possível perceber no prédio do Fórum Odorico Rosa, nas residências que foram construídas nas últimas décadas em toda a cidade, onde os traços retos e ausência de ornamento, o ambiente fechado dos muros,  impedem a leitura da edificação é a denuncia que a cidade muda e com ela também sua arquitetura.

Altos embora uma cidade nascida moderna e ainda, jovem ao completar 90 anos, é que começa a perder seu jeito rural que tanto influenciou sua história. Os poucos exemplares de sobrados na avenida João de Paiva denuncia sua opção pela arquitetura rural, com suas grandes casas térreas.

As edificações preservadas (casas residenciais, o mercado, o colégio, etc), não podem e nem devem ser vistas somente como um sítio arqueológico, mas como algo que comunica inúmeras informações, que constitui a história altoense. A análise arquitetônica de Altos possibilitou um revelar a significativa mudança que seu patrimônio tem passado. Como também alguns exemplares conservados que terminam perpassando uma história mais ampla a do Piauí. O desaparecimento desses vestígios, terminam por representar um prejuízo não só para a memória de Altos mas do estado.



Assim nesse momento de comemoração do seu nonagésimo aniversário, nada mais oportuno que passear por seu patrimônio, que embora mutilado ainda guarda significativos exemplares da história e da memória altoense.

A pesquisa é o resultado de mais um ano de pesquisa sobre o patrimônio edificado de Altos. O objetivo é inventariar e analisar o patrimônio da Cidade ao completar 90 anos.

Os resultados desse trabalho têm sido socializados em eventos científicos, Nacional e Internacional

Por Ivan Francisco Viana de Lima e Domingos Alves de Carvalho